4 de junho de 2017, eu, meus dois longboards, 1 clássico e outro híbrido, ambos 9 pés, mais uma porção de biquinis e maiôs da Sicrupt, embarquei  pela primeira vez para Bali.

Nunca havia planejado esta viagem, mas aconteceu e como não sou de perder oportunidade, embarquei, sem roteiro e com um sonho prestes a se realizar.

Com as passagens nas mãos, passada a euforia me dei conta e me perguntei: será que vou conseguir surfar de long na Indo??

Comecei a pesquisar sobre o surf de longboard na Indonésia. Até então via muito pouco material sobre o assunto,  a maioria de fotos, vídeos e matérias que tinha contato era sobre a pranchinha. Fui com poucas referências, o único pico que era unânime quando pesquisava sobre o assunto, era Canggu.

Meu namorado, o fotógrafo Osmar Rezende, já estava na Indonésia, mais precisamente em Mentawai trabalhando, e  tirou uns dias de folga para nos encontrarmos em Bali, ou seja, motivos para eu estar ansiosa não me faltavam: reencontrar meu namorado, conhecer um novo país, conhecer novas ondas,  nova língua, cultura, para onde iríamos, como iríamos…

Nosso roteiro de viagem, era não ter roteiro e confesso que esta opção funcionou muito bem no nosso caso.

Apenas tínhamos reserva para os dois primeiros dias, escolhi ficar em Canggu, pois como era o pico que mais tinha informações sobre o surf de longboard, também era a praia onde algumas amigas minhas estariam instaladas.

Canggu é um lugar bem movimentado, com turistas do mundo inteiro numa “vibe” meio hippie mas com muitas baladinhas, lojinhas charmosas e uma vida social bem agitada durante todo o dia! A pousada era pertinho da praia e dava pra ir surfar à pé.

Chegamos em Bali juntamente com um “big swell” e o mar estava bem grandinho, mesmo assim entrei com minha amiga Calu bodyboarder, meu namo e  com aquele frio na barriga, cheia de ansiedade por finalmente surfar na Indo, depois daquela longa viagem.

Canggu é um beach break com algumas pedras espalhadas pela praia.

Não foi difícil varar a arrebentação, infelizmente tinha um crowd, as ondas estavam bem cheias e balançando um pouco, peguei poucas ondas, nada excepcional. Sai com aquele gostinho de quero mais, sabe?

A praia de Canggu, fisicamente, não é uma praia bonita, pelo menos na minha opinião. Areia  e água escuras não encheram meus olhos quanto a beleza, mas a energia do lugar é deliciosa.

No meu último dia em Canggu o swell já tinha baixando e surfei novamente, agora sim, um pouco mais a vontade consegui sentir o potencia daquela onda para o Longboard.

Direitas e esquerdas, onda cheia e forte, mar perfeito pra eu sentir meu longboard novo que mandei fazer justamente para essa viagem e não cheguei a surfar com ele antes de viajar, portanto aquela era minha segunda queda com ele.

Essa foi a prancha que surfei em todos os picos, feita pelo Marcelo Carbone, batizado de híbrido,  9 pés, um misto de um longboard clássico e progressivo. Até então todas as minhas pranchas eram bem clássicas, retas e monoquilhas.  A prancha nova foi minha primeira rabeta round pin e triquílha, cedi a está opção, pois imaginava que se quisesse encarar mares mais cavados e maiores, os estabilizadores na prancha me ajudariam mais, facilitando desde o botton, até colocar e segurar meu longboard na onda!

Enfim, primeiro surf mais solto com footwork e mais estilo, fiz a cabeça mas o gostinho de quero mais, só aumentava.

Decidimos que era hora de conhecer outros picos e decidimos encontrar outro lugar pra nos instalarmos mais próximo a região de Uluwatu.

Com a ajuda do Booking, encontramos um lugarzinho estratégico, barato e aconchegante em Dreamland.

Estávamos perto das praias de Uluwatu, Padang, Dreamland, Bingin e Balangan. De onde estávamos íamos de moto fazer o check-in nas praias. De todas estas opções, para o surf a nossa eleita da região foi Bingin.

Na maré cheia, as ondas pareciam mais amigáveis e a bancada não tão rasa deixava a gente um pouco mais tranquila. Point break, onde encontramos muitos brasileiros na água, inclusive um time de surfistas do nordeste, crianças que tinham de 7 a 10 anos e estavam se acabando nas ondas!

A primeira queda em Bingin, foi mais um laboratório. Eu  entrava sempre com a intenção de primeiramente de me adaptar, remar, ficar sentada no outside, vendo as ondas, sentindo o mar e assim aos poucos me acostumar aquele novo surf.

A impressão que eu tinha durante a viagem, era que eu tinha desaprendido a surfar. Mas na verdade o surf na Indonésia, estava exigindo de mim, algo que até então outros picos não exigiam. A perfeição das ondas me hipnotizava mas as bancadas rasas me intimidavam, e para isso respeitei o meu “time” para me soltar, sentir aos poucos mais segurança e surfar mais tranquila.

Mesmo assim meu segundo surf em Bingin, eu “vacilei”, escolhi o lugar errado e na saideira, acabai indo pra cima de uma pedra e dei uma raladinha” básica” nas pernas e pés. Nada grave, mas um alerta de que: todo cuidado é pouco na Indonésia.

Em Bingin, a onda é  em pé e rápida, a praia  é linda, areia clara, água cristalina, um exercício a parte para as pernas foi descer o caminho íngrime de onde paramos a moto até a praia carregando o longboard. A vida de longboard tem dessas né? Mas todo esforço é recompensado!

Aqueles dias em Dreamland, curtimos o surf, as baladinhas em Uluwatu  com pôr do sol alucinantes e brindes de Bitang foram deliciosos!

Após 5 dias já estávamos querendo “levantar acampamento” e foi quando surgiu a oportunidade de irmos para Mentawai. O resort onde meu namorado estava fotografando, precisava dele lá, então, acabamos decidindo o nosso próximo destino: Playground Surf Resortno Mentawai.

Tratamos tudo sobre o translado, vôos e os barcos. De Bali, tive que voar até Jakarta e depois até Padang, permanecemos 1 noite em Padang e no dia seguinte pegamos o Fast Boat de 6 horas até Siberut.

Lá o barco do resort já nos esperava, então, mais 1 hora e meia de viagem por  um riozinho na mata fechada e enfim, chegamos!

No primeiro dia as ondas quebravam cerca de um metro e meio. Nossa primeira saída do barco foi para Nipusi. Eu estava paralisada. Ondas muito fortes no reef breack muito raso. O barco do resort ancorou, eu, a única surfista de longboard, preferi esperar e observar. A tática de estudar o pico, nesse dia não me acalmou muito, resolvi entrar mesmo assim, mas fiquei apenas de lado, observando a força das ondas e vendo a galera surfar. Voltei muito frustrada pro barco, imaginando que se os dias ali fossem assim, eu não surfaria.

Mas nada como um dia após o outro e a natureza estava à meu favor. O swell foi baixando aos poucos. Fomos para uma onda chamada 4Bobs,  uma direita, um pouco mais cheia, cerca de 1 metrão. Dropei minha primeira grande onda! Adrenalina a mil, terral no rosto, não fiz muita coisa na onda, mas quando saí dela, aquele sorriso e sentimento de superar o medo finalmente estava entrando no meu coração que batia forte.

No fim de tarde fomos para Beng Beng, uma esquerda, com um visual alucinante de coqueiros cinematográficos, cenário paradisíaco. Ondas com cerca de 1 metro quebrando, um crowd leve no mar. Ancoramos e partimos pro surf, e que surf! O fundo de coral, molda com tanta perfeição a onda, ela quebra sempre alí, na bancada, perfeita, constante, era só esperar a série e esperar a minha vez!

Aos poucos fui pegando o jeito, perdendo o medo, e quando me dei conta estava lá dropando, sentindo aquela felicidade que nem mil palavras aqui poderia explicar, que sensação!

Eu saia de cada onda e já olhava o barco e avistava meu namorado, que mais do que registrar, vibrava comigo cada onda!

Beng Beng, foi um tiro certo no meu coração.

Quando viajamos e surfamos um pouco em cada lugar é difícil o surf ter um bom rendimento, pois cada praia e onda tem suas características e quando decidimos surfar em diferentes ondas, o tempo de adaptação para cada condição é reduzido. Talvez para uma surfista profissional isso não é um problema, mas para uma freesurfer paulistana como eu, o esforço e a dedicação tem que ser intensificados.

Foram 5 dias de surf, duas quedas por dia, tudo deu certo, o mar foi baixando enquanto estive em Mentawai e no meu último dia de surf, foram nas merrecas, mas foi já muito mais solto e a vontade!

Foi um período curto, certamente com mais tempo teria me “especializado” bem mais nas ondas daquele Paraíso, mas agradeço cada segundo que estive lá!

Nesse momento da viagem eu era pura gratidão, meus olhos brilhavam e transmitiam o que tinha dentro de mim. Eu me pegava constantemente alí, sentada na minha prancha, os pés próximos aos corais, um turbilhão de bons sentimentos e uma paz que nunca sentí!

Meu surf evoluiu, eu evoluí! O medo da bancada rasa de coral combinava com meu juízo raso que tinha me levado até ali. Os Deuses  me protegeram e comemorei pois meu corpo e minha pranchas estávamos inteiros.

É chegada a hora de partir, uma longa viagem me esperava. Normalmente ficamos tristes mas eu não permiti que a tristeza entrasse no meu coração, pois ele já estava repleto de gratidão por tudo que vivi!

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Fotos: Osmar Rezende